GUERRA CONTRA A NATUREZA
A Organização das Nações Unidas (ONU) abriu nesta segunda-feira (2) a cúpula do clima de duas semanas em Madri, a COP 25. Líderes mundiais enfrentam crescente pressão, especialmente de jovens em todo o mundo, para provar que podem evitar os impactos mais catastróficos do aquecimento global.
Participam representantes de quase 200 países, totalizando quase 29 mil pessoas. O evento, que ocorre de 2 a 13 de dezembro, adotou o slogan “Hora da Ação” (Time for Action). Desde 2015, quando foi assinado um grande acordo climático global, o Acordo de Paris, as conferências do clima anuais têm se dedicado a como colocá-lo em prática.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou no domingo (1º) que é preciso interromper “nossa guerra contra a natureza”. De acordo com a ONU, estudos científicos mostram que as emissões de gases causadores do efeito estufa continuam subindo – e não caindo, como deveria ser.
O principal desafio da COP 25 é acelerar o combate às mudanças climáticas. Eventos climáticos extremos no mundo inteiro, como enchentes e queimadas, estão ligados ao aquecimento global causado pelo ser humano, conforme demonstram estudos científicos realizados em diferentes países.
As negociações começam nesta segunda sob um cenário de impactos cada vez mais visíveis, como incêndios florestais se espalhando do Ártico e da Amazônia até a Austrália, e regiões tropicais atingidas por furacões devastadores.
Michał Kurtyka, ministro polonês do clima que liderou a rodada anterior de negociações climáticas da ONU na cidade polonesa de Katowice, em dezembro do ano passado, disse que um aumento no ativismo climático entre jovens enfatizou a urgência da questão – conforme a agência Reuters.
“Talvez o mundo ainda não esteja se movendo no ritmo que gostaríamos, mas minha esperança ainda está particularmente entre os jovens”, disse Kurtyka na cerimônia de abertura oficial das negociações em um centro de conferências em Madri.
“Eles têm a coragem de falar e nos lembrar que herdamos este planeta de nossos pais, e precisamos entregá-lo às gerações futuras”, disse Kurtyka.
A conferência tem como objetivo estabelecer as peças finais necessárias para apoiar o Acordo de Paris de 2015 para combater as mudanças climáticas, que entra em uma fase crucial de implementação no próximo ano.
As promessas existentes feitas sob o acordo estão aquém do tipo de ação necessária para evitar as consequências mais desastrosas do aquecimento global em termos de elevação do nível do mar, seca, tempestades e outros impactos, de acordo com os cientistas.
Mais de 50 chefes de Estado devem comparecer à COP 25, mas nem o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, nem o americano, Donald Trump, confirmaram presença.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou no domingo (1º) que é preciso interromper “nossa guerra contra a natureza”. Ele lembrou que estamos cada vez mais próximos de um “ponto de não retorno”, e denunciou a falta de vontade política dos líderes globais para reduzir as emissões de gases estufa.
“E sabemos que é possível”, disse Guterres. “Simplesmente precisamos parar de cavar e perfurar para aproveitarmos as vastas possibilidades oferecidas pelas energias renováveis e pelas soluções baseadas na natureza.”
A emissão de gases causadores do efeito estufa precisa diminuir mais de 7% ao ano no período entre 2020 e 2030 para que o aumento na temperatura média global seja de apenas 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais – conforme relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Guterres disse que a meta atual não é suficiente. “Os grandes emissores não estão fazendo sua parte e, sem eles, nossas metas são inatingíveis”, afirmou.
É uma “Conferência das Partes” realizada por países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). A convenção é um tratado internacional com objetivo de lidar com o aquecimento global, refletindo sobre o que já foi feito e o que ainda precisa ser adotado.
A conferência ocorre anualmente e, em 2019, chega à sua 25ª edição. Por isso o nome “COP25”. A próxima reunião, a COP26, será em Glasgow (Escócia), em novembro do ano que vem.
A Conferência do Clima da ONU estava marcada para acontecer em Santiago, no Chile, nas mesmas datas. Mas, devido à onda de protestos que o país atravessa, o presidente Sebastián Piñera decidiu cancelar a realização da conferência. A Espanha se ofereceu para receber o evento, em Madri.
No ano passado, o Brasil também desistiu de sediar Conferência do Clima da ONU devido a restrições orçamentárias. A decisão ocorreu ainda durante o governo Michel Temer, mas, já na transição, o presidente Jair Bolsonaro disse ter recomendado que o encontro não fosse realizado no país, pois “custaria mais de R$ 500 milhões ao Brasil”.
Segundo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o governo brasileiro pretende aproveitar a COP25 para apresentar propostas que facilitem o financiamento estrangeiro de medidas de preservação ambiental. Ele afirma que o Brasil já conduz medidas de preservação ambiental e que é preciso ser remunerado pelo que já realiza na área.
Salles se refere ao artigo 6º do Acordo de Paris. Trata-se de um mecanismo de cooperação internacional, por meio do qual é possível que um país incapaz de atingir suas metas de redução de emissões possa compensar isso pagando para países que emitem menos.
Esse sistema de “créditos de carbono” poderia ajudar a garantir que, no fim das contas, o mundo mantivesse suas emissões sob controle. Entretanto, embora Salles tenha cobrado recursos dos países desenvolvidos, esses pagamentos não são obrigatórios.
A implementação do mercado de créditos de carbono será discutida na COP 25 e está prevista a criação de um fundo de US$ 100 bilhões para iniciativas de financiamento entre países.
G1
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